Eis que hoje, na correria do trabalho, um senhor bem de idade chega no caixa me pedindo pra trocar 5 reais. Confesso que fiquei impaciente, mas o fiz (só uma dica: não falem com uma pessoa quando ela está contando dinheiro, principalmente se for pedir pra trocar dinheiro).
Passou um tempo, o mesmo senhor volta e indaga se fui eu quem trocou aquele dinheiro, respondo que sim, então ele me faz a melhor pergunta do dia: 'gosta de ler?'. Faço um sinal afirmativo, ele continua: 'mas gosta mesmo, ou só gosta de ler por ler?'. Resolvo dizer a verdade: 'Adoro ler, meu senhor. Gosto de verdade. Por quê?'.
E não é que recebo três presentes?! Três livros, assim, sem que nem pra quê, 'Toma esse. E mais esses dois também. Mas é pra ler, viu?!'. Mas é claro que sim, meu senhor, mas é claro que sim.
Como se não bastassem os livros, ele volta me trazendo postais. Postais de uma Vitória da Conquista que não é mais a mesma. Uma Conquista que só existe nas pinturas a óleo. Que coisa linda! Um mais encantador que outro. A rua na qual trabalho, a praça com vários pombos, a dos artistas de rua... Lindos, lindos de verdade, como o meu gosto pela leitura.
"e os meus pés estão nos meus olhos
e os meus ouvidos estão nos meus olhos
a minha boca está nos meus olhos
e os meus olhos estão em ti
meus olhos tristes como tigres
zunhando
as paredes do planeta.
... E contam que Calixtim
morreu nas bandas de Minas.
Morreu de morte matada.
... E contam que o poeta enlouqueceu
Pelas ruas de uma "Conquista"
Cem anos depois.
... E contam que a banda da janela azul
Permanece ali, aberta e sem vida.
Manchada no registro do olhar.
- Mãe, o que faço,
O amor ou a loucura?
("Pau de Espinho na Banda da Janela Azul" - Jean Claudio, Vitória da Conquista, 2008)